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Gratuita
A partir de um desafio lançado pelo Teatro do Frio, o coletivo musical portuense CRUA criou o projeto “Em casa”, especialmente pensado para o bairro da Pasteleira, no âmbito do Cultura em Expansão.
Ao longo das últimas duas semanas, as mulheres que compõem o grupo andaram de porta em porta, trocando músicas por receitas, que irão servir de base para um almoço e uma nova criação musical. Uma experiência que, nas suas palavras, “transcendeu largamente a música”.
Neste sábado, 18 de março, irão juntar as pessoas que visitaram num convívio à mesa, que pretende celebrar o poder convivial da comida.
Naquele que foi o último dia de visitas musicadas, o primeiro ponto de paragem foi a casa de uma figura emblemática do bairro e agora da história do programa do Cultura em Expansão: o senhor Amadeu.
Morador da Pasteleira há várias décadas, em 2022 viu a sua vasta e eclética coleção de discos de vinil, assim como os seus desenhos, poesia e esculturas serem o ponto central de uma noite entre o arraial e a performance – Baile dos DIscos Amadeu –, levado a cabo pelo artista Ruca Bourbon.
À porta de casa mostra-nos a foto do neto, sorri ao som da música que ecoa pelas escadas e, entre histórias, relembra que poderia ter sido “um Julio Iglesias”.
Seguiu-se mais uma visita, desta vez, no Bairro Pinheiro Torres, a única neste território que, desde 2021, tem vindo a ser um segundo ponto de trabalho para o Teatro do Frio que, para além de espetáculos de rua, desenvolveu ali um projeto de autoconstrução com o coletivo Ponto Parágrafo e uma oficina de fotografia dirigida aos mais jovens, com a fotógrafa e arte educadora Paula Preto.
Prontas para seguirem para mais um concerto fora do Porto, as CRUA fazem um balanço muito positivo desta primeira parte do projeto, afirmando que a sensação que levam destes dias faz jus ao nome escolhido para o projeto.
Um projeto bem acolhido
Com pouco mais de um ano de existência e 37 concertos só em 2022, esta é a soma dos seis adufes, vozes e outras percussões de Ana Costa, Bárbara Trabulo, Diana Ferreira Martins, Isabel Martinez, Liliana Abreu e Rita Só.
Nascido da pandemia, este projeto propõe-se a revisitar a música tradicional ibérica, sobretudo a portuguesa com forte incidência do adufe, procurando a identidade e a presença como um processo vivo e em constante mutação.
“Nós fomos recebidas de uma forma muito afetiva. O nome deste projeto e do concerto que vamos dar é “Em casa” e, de facto, estivemos em casa. As pessoas abriram-nos a casa, deram-nos comida, bebida, conversa, confidências. Cada vez que íamos a uma casa, sentíamos que entrávamos naquela realidade. As pessoas abriram-nos a porta efetivamente” conta Liliana, acrescentando que sentiu que “muitas das pessoas estavam a precisar de visitas”.
Recuando aos primeiros encontros do projeto, Paolo Andreoni, do Teatro do Frio, mostra-se também surpreendido com a evolução. “Pensando na primeira vez em que apresentámos o projeto ao grupo de senhoras que fazem ginástica, que nos encararam com uma certa desconfiança, dando a entender que o convite para almoçar era um passo demasiado grande, é muito bom perceber a forma como o projeto evoluiu, de forma espontânea. É muito bom ver a espontaneidade da resposta das pessoas”, afirmando que depois das visitas e dos momentos de partilha, quando convidados para almoçar, a resposta surge agora sem hesitações: “Sim, sim. Vamos almoçar, claro”.
O evento antecede ainda um concerto gratuito, aberto ao público em geral, que terá lugar na Associação de Moradores do Bairro Social da Pasteleira – Previdência Torres, às 21h30, que marca o arranque da programação do Teatro do Frio neste polo do Cultura em Expansão.